quarta-feira, 23 de maio de 2012

novo blog

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Não tem como, além de tudo, ainda fazer sentido

Não estava acostumada a acordar cedo no fim de semana (e veja só como o mundo dá voltas...), mas, mesmo assim, como eu estava apreciando caminhar pela Gutemberg, no sol forte do meio dia, depois de uma manhã de sábado cheia.
Caminhadas sozinha pela cidade me agradam. (Já mencionei isso, quem sabe, alguma vez?)
Mas, aquele dia, quem sabe pelo sono, pelo sol muito-mas-muito forte ou pelo fato de aquela ser, afinal de contas, a Gutemberg; foi especial.
A escola tinha organizado um fim de semana temático sobre orientação profissional, e, depois de 3 palestras super interessantes sobre as profissões mais promissoras dentre as oferecidas em uma lista um-tanto-quanto-promissora, eu tinha combinado de encontrar meus pais para o almoço.

Recém-completados 15 anos, aquele sol batendo no coco.
"O que fazer da minha vida?" "Psicologia parece legal." "Mas e arquitetura?" "Não, mas jornalismo..."
Um sorriso no rosto.
Preocupações?

Eu tinha tempo.
O que eu sentia, mesmo assim, era mais do que simplesmente "ter tempo".
Era ter a vida pela frente. Possibilidades. Incertezas. Caminhos desconhecidos. Novidades. Ansiedades.
Preocupações?

O tempo passou. Nem tanto, vou confessar, mas passou.
De repente, o tempo sumiu.
Possibilidades, incertezas, caminhos desconhecidos, novidades e ansiedades se veem ofuscadas, agora, por novas sensações que chegaram.
Preocupações.

Queria o tempo de volta.
Não voltar atrás, não avançar para frente.
O tempo, agora.
Queria ler, pensar melhor, ter mais tempo sozinha, ter mais tempo acompanhada.
Baixar umas músicas, aprender coisas engraçadas com meu avô, praticar minha coreografia de Yôga, escrever textos que me agradem.
Mas onde foi parar o tempo?

A parede em que colo meus resumos, pouquinho por pouquinho, está colorida e bonita.
Deito na cama antes de dormir e, tendo oficialmente abandonado a leitura de Memórias de um Sargento de Milícias, decoro mais um pouquinho.
Não a parede.

Queria um tempo para ler as longas e inúteis reportagens da Piauí. Ou as mais inúteis ainda colunas da Tpm. Queria um tempinho. Tem tanta coisa inútil por aí...

Hoje, andando pela Gutemberg, meus pensamentos eram tão diferentes...
Aquele salão da esquina é um roubo, mas minha sobrancelha ficou tão bonita da última vez...
Estou precisando fazer a sobrancelha.
Mas domingo tem simulado.
Sim, simulado.
Não tenho tempo de fazer a sobrancelha.

(atá)

É difícil ter aquela sensação de liberdade do sábado-na-Gutemberg-aos-15-anos.
Preciso me esforçar, por mais ridículo que isso possar parecer, para lembrar que ainda tenho toooooodas aquelas possibilidades.
Isso porque preciso me esforçar para fazer uma escolha.
Divulgam-se as datas dos vestibulares, daqui a pouco abrem-se as inscrições, e daqui a pouco lá estou eu.

Domingo tem simulado.
Sim, simulado.
E ele parece que vem só para me lembrar.

Me lembrar do poder que uma folha - simples, branca, A4, cheia de bolinhas pintadas por uma esferográfica azul - tem de me levar para onde eu quero.

Mas onde é que é isso, mesmo?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Reflexões de uma vestibulanda leiga com o cérebro deteriorado pelo cansaço

Pelo primeiro em muitos dias (sendo um deles o domingo cuja manhã eu passei trancafiada numa sala de aula, parcialmente me lamentando e parcialmente prestando atenção no que diziam os professores), me peguei sentada de bobeira, diante de uma mesa mais cheia de farelinhos de borracha do que minha mãe gostaria e de uma tabela-de-tarefas repleta de xizes: missão cumprida. Pelo menos por hoje.

Engraçado que eu cheguei, esse último sábado, a visitar, dentre alguns outros dos quais também já estava com saudades, o meu blog. Minha reação ao ler o que eu mesma tinha escrito foi extraordinária.
O que acontece é que o encantamento com o fato de eu e toda aquela galera estarmos no cursinho todos os dias (leia-se: ATÉ NO DOMINGO) correndo atrás dos nossos sonhos vem se esgotando a cada dia que passa. Isso na mesmíssima velocidade em que eu, depois de muitos e muitos dias estudando que nem uma louca e marcando muitos e muitos xizes cor-de-rosa naquela bendita tabela, passo a me sentir cada dia mais burra.
Como já dizem aquelas charges que meus amigos postam no Facebook (USP dois mil e nunca para mim, citando charges do Facebook ao invés de filósofos ou sociólogos): escola é lavagem cerebral.
Ao mesmo tempo em que posso às vezes me deleitar com a ideia de ter ali, na minha frente todo santo dia, professores inteligentíssimos me ensinando tudo o que a ciência já oficializou como correto a respeito de nós e do nosso mundo; vou falar bem a verdade: não sinto estar aprendendo muito. E isso não só porque eu estou é revisando esse ano o que aprendi durante toda a minha vida escolar ano passado, mas principalmente por aquela tal de reação extraordinária que eu disse que tive, lendo meu próprio blog no sábado.
"Como é que eu conseguia escrever assim, tão certinho, antes das aulas de acentuação do Carreira?"
Foi uma pergunta que invadiu minha mente aos pouquinhos, como quem não quer nada, e que, quando devidamente instalada, causou um choque do qual ainda não posso dizer que me recuperei.
Então é isso? Seria o cursinho pré-vestibular mais uma conspiração maquiavélica das grandes corporações para afanar dinheiro de cidadãos inocentes? Deixando seus alunos, coitadinhos, cada vez mais burros e dependentes de fórmulas, e macetes, e musiquinhas imbecis, para realizar o sonho de ser médico passar no vestibular?
Ou deveria eu simplesmente largar essa paranoia (e essa mania de riscar as palavras) folha de papel na qual agora escrevo, dar mais uma estudada, fazer uma permanência significativa em vajrolyásana, começar a resolver aquela prova da Fuvest que eu imprimi semana passada, fazer uma máscara de argila para minhas espinhas ou continuar a abandonada-por-mais-tempo-impossível leitura de Memórias de um Sargento de Milícias?
Quem sabe eu deveria é terminar aqueles exercícios de história de semana passada.
O que me lembra de uma coisa que pensei ontem, a caminho do restaurante por quilo onde costumo almoçar: assim como a gente estuda as civilizações antigas, tipo Mesopotâmia e Creta e tudo mais; um dia vão estudar, perplexos, a nossa civilização. E eu me pergunto como vai ser a reação desses caras quando verem, além de cadáveres com silicone em localidades sugestivas enterrados por aí (como diz a minha mãe numa piadinha que ela não se cansa de contar), vestígios desse nosso ilógico método de "ensino".

Não sei se fiz sentido falando tudo isso, nem se conseguiria fazer, sem as devidas aulas cursinhais sobre o assunto.
Acho que estou é ficando maluca.
A única coisa que eu efetivamente sei é que agora, simples e felicissimamente, eu vou deitar na minha caminha adorada e dormir.
Fiz essa decisão.

Diz que dormir ajuda a assimilar o aprendizado do dia.

domingo, 11 de março de 2012

"cero mano"

Começar a praticar Yôga para mim foi ótimo. Melhorou a dor na coluna, melhorou a concentração; melhorou o desempenho nas eventuais corridinhas-para-alcançar-o-ônibus, mas principalmente o desempenho da posição absurda ao qual minha depiladora me sujeita mês após mês naquela maca da tortura.
Ao longo, aliás, de meses de depilação Yôga - evolução física já sendo considerada banal na minha lista de benefícios - comecei a ter momentos únicos de lucidez enquanto praticava. Ali, em uma posição que fazia minhas pernas queimarem e tremerem de tanto esforço, podia fazer as mais interessantes analogias com comportamentos da vida real.
Autossuperação, foco e consciência da própria capacidade eram essenciais para conseguir sobreviver a uma hora de prática, e era em outros momentos, quando estava, então, "realmente vivendo", que conseguia entender melhor o porquê de tanta gente se referir ao Yôga não como uma atividade física, e sim como uma filosofia de vida.

Hoje, quando um pacote do único restaurante chinês que entrega no meu bairro chegou aqui em casa e eu me vi diante do yakissoba vegetariano mais bem-embalado da história de todos os yakissobas, um comportamento estranhamente familiar invadiu meus pensamentos:
Primeiro de tudo, calma. Olhe para o pacote. Não tente rasgar mais do que você já tentou - não dá certo. Vá com calma. 
Depois de algum tempo olhando o pacote:
Pegue uma tesoura. 
Depois de não encontrar a tesoura:
Pegue uma faca. Corte o pacote. Com cuidado.
Depois de cortar o pacote - com cuidado:
Aa... Missão cumprida. 

"De onde, toda essa familiaridade com aqueles pensamentos?" , pensei, com meus botões, enquanto comia meu yakissoba e minha mãe assistia, do meu ladinho, à novela Fina Estampa*.
E, de repente, tudo ficou claro.
Eram quase as mesmas palavras, e a mesma necessidade de calma, de foco.
É claro.
A resolução ficionada das mais variadas equações matemáticas invadiu minha rotina de tal maneira desde duas semanas atrás, que já tinha, assim como o Yôga, se tornado para mim uma filosofia de vida. A calma, a análise e toda aquela racionalidade nunca me foram característicos. Principalmente na hora de abrir um pacote de comida. (A ferocidade é semelhante a quando a gente é criança e recebe um presente finamente embalado. Espera um pouquinho que eu vou tirar esse durex pra não rasgar, tia. Aham, Cláudia, senta lá.)
Mas ali estava eu, analisando calma e atentamente um pacote de comida chinesa, como se fosse um raciocínio muito complicado.
É, álgebra. Até que nossa relação vai mais íntima do que me parecia.

O mais incrível é que o cursinho traz junto de si também outras filosofias de vida, fora a das equações, a do cansaço, da autopiedade e da carência emocional.
Depois que a novela acabou, minha mãe subiu para dormir e eu, assistindo ao Jornal das 10 na Globo News tomando um chazinho, pude observar que algumas dessas filosofias - que reconheço, aliás, do ano passado - já estão dominando meus pensamentos e minha maneira de ver as coisas, com apenas 2 semanas de aulas.
A mais incrível dentre essas tendências "pensamentais", para mim, e também a mais explícita e presente, é a biologia.
Estudar essa matéria abre minha mente mais do que estudar história, sociologia, ou filosofia sozinhas jamais conseguiu abrir.
Estudar biologia e, principalmente, ter consciência do quão abrangente é o termo "ser vivo" me faz ver o mundo de forma diferente. Estudar os tipos de reprodução, estímulos externos e maneiras que a natureza encontrou de facilitar a perpetuação das espécies me faz ver a única - "única" - coisa que temos - bactérias, cogumelos, amebas, esponjas do mar, minhocas (que são hermafroditas), árvores, musgos, bolores, vacas, porcos, galinhas e seres humanos - em comum: sobreviver e gerar descendentes.

É claro que o ser humano é diferente, muito diferente, e que nos vemos, diariamente, diante de muitas outras metas.
(A minha, por exemplo, é tão mais complexa que me obriga estudar aproximadamente 12 horas por dia, trancafiada em uma sala mal-arejada enquanto lá fora faz um sol de matar.)
Sentada no sofá, meu prato de yakissoba já vazio em cima da mesinha de centro, enquanto notícias e mais notícias me eram apresentadas pela televisão, não pude deixar de me perguntar: por que, de fato, nós somos diferentes?
Nós pensamos, sim. Somos, em muitos aspectos, considerados os seres mais evoluídos; sim.
Mas e daí?
Será que em nossa complexidade de metas e pensamentos, somos realmente melhores? Será que tudo isso é necessário? Como será que é, viver igual a uma araucária, altíssima e praticamente estática, alimentando a si mesmo com a ajuda da luz do sol e do gás carbônico? Ou como porcos, correndo, fedidos e gordos, de um lado para o outro por aí sem dar bola para nada?

O ser humano é tão engraçado. Se emociona com um jogo de futebol. Toca música. Criou coisas que eu não entendo, como binômios de Newton ou a bolsa de valores. Se arrepia não só por estímulos físicos, mas também quando vê uma coisa absurdamente legal. Tem vergonha de muitas coisas das quais não deveria ter. Se orgulha de coisas imbecis das quais deveria se envergonhar.

Quanto mais eu observo e leio sobre gente, mas percebo: a gente é muito engraçado. A gente é muito estranho. E a gente pode, e isso me intriga pra caramba, ser muito cruel.
Mas, ao mesmo tempo, cara, como a gente é incrível.
No meio de todas as distrações e metas criadas além da única real meta que todos os seres vivos de fato têm, criamos coisas tão incríveis.
Descobrimos tanta coisa. Temos nossa consciência e a capacidade de fazer tanto, tanto, tanto.
Estudar para o vestibular, além de ser o único caminho que atinge a principal meta da minha vida (sem a qual, aliás, sobreviver e gerar descendentes não teria assim tanta graça), é o momento em que consigo para e pensar nessas coisas.
Alguém um dia criou religiões e seitas, matou e continua matando muita gente por poder, roubou e continua roubando sem qualquer ressentimento. Alguém um dia sentou e deduziu a fórmula de Bháskara, descobriu a radioatividade, teorizou a psicanálise, inventou a imprensa, a calça jeans.
Pensando em todas essas coisas, eu fico sem palavras.
Todas essas coisas inacreditáveis que acontecem ao redor do mundo só me fazem querer estudar e aprender cada vez mais, entender melhor tudo o que acontece.

O vídeo "Kony 2012", fenômeno da internet criticado por muitos por sua ingenuidade, pelo menos conscientiza uma galera do que esse cara já fez de atrocidades por aí (e o pior... em nome da bíblia e do "senhor"). Também sou um tanto quanto ingênua, e, num primeiro momento, esse vídeo me fisgou. Tenho lido bastante a respeito e tentado entender o que realmente se passa por dentro da ONG Invisible Children, tenho mudado muitas vezes o meu ponto de vista a respeito. Mas continuo admirando o vídeo, e por um só motivo. Ele me faz pensar na principal filosofia de vida que escolhi para mim: a do jornalismo, que mostra, conscientiza os outros do que está acontecendo, acontecendo com as pessoas, com todos os seres vivos, com toda a Terra, tudo.

Aqui em casa, onde só chegam entregas de um restaurante chinês, muitas vezes me sinto impedida de fazer qualquer coisa, por não ter carro, o ônibus só passar de meia em meia hora e eu não ter uma voz imponente na sociedade ou na minha própria família.
Mas eu tenho meus professores. Eu tenho o jornal. Eu tenho os livros e as apostilas. Eu tenho, aqui em casa, o meu computador. Esse bombardeamento de informações, ao invés de deixar a gente desnorteado, aumenta nossa consciência e foco. Ouvir, ler, aprender. Passar para frente. É isso que eu quero da minha vida.
Simplesmente.
E parece incrível o quanto isso requer esforço.
Segunda-feira lá estou eu, na escola. Das 7 às 7. As costas doídas. Lápis, marca-texto, memorex e post-its na mão.

Estou pronta.
Pode vir.

* Pérola do Crô na novela de ontem: "Eu conheço ela tão bem quanto a discografia da Madonna"
Ha. Hahahahahhahaha.

domingo, 4 de março de 2012

Reflexões dominicais de uma mente cansada

Em Curitiba, em um dia quente de verão como ontem, chega a ser difícil acreditar no quanto é difícil estacionar o carro em qualquer um dos shoppings da cidade.
Mas é.
E o mais difícil nem é isso. O mais difícil, na verdade, acreditar no quanto as pessoas que estão ali, na tentativa de achar uma vaga, se mostram irritadas e mal-educadas; buzinando, xingando, berrando e fazendo gestos obscenos para qualquer pessoa que incomodar mais ainda a tarde terrível que eles estão tendo, ai, procurando um lugar para estacionar no shopping.
Não sei sobre a vida dessas pessoas, muito menos o que elas costumam fazer no shopping em um sábado à tarde. O que sei é que muita gente tem algum, qualquer que seja, costume fim-de-semanal lá, porque essa situação de stress-no-estacionamento se repete e se repete e se repete por tantas vezes que não consigo contar.
Nesse fim-de-semana, porém, rindo com as barbeiragens e dificuldades da minha recém-motorizada amiga Camila e auxiliando na hora de estacionar (na vaga que, surpreendentemente, encontramos rapidinho no Shopping Barigüi), ao me deparar com os berros de um motorista frustrado, acabei também me frustrando um pouquinho, contra ele, ao lembrar e automaticamente comparar aquele momento com o meu dia anterior.

Vestibulando é foda. Se acha a pessoa mais injustiçada do mundo. E com certeza, com não um pouco, mas com muita razão. Não vou ficar aqui discursando sobre os problemas educacionais do país nem nada - até porque estou longíssimo de ser uma autoridade no assunto - mas o sistema utilizado aqui para ingressar em universidades é a tortura decorebística mais ridícula da qual já ouvi falar. E eu, apesar de adorar o aspecto de ter o estudo como uma constante não só na minha, como também na rotina da maioria das pessoas que estudam comigo (até na daqueles caras bem bonitinhos que até ontem não sabiam o que é notação científica); entro nessa onda de sou-uma-vestibulanda-injustiçada sem nem perceber.
Passo a semana estudando um monte, e gosto. Presto atenção em todas as aulas, e, nossa, como eu gosto. Meus professores são muito inteligentes, e no final de toda manhã meus dedos acabam doídos, de tantas anotações que fiz, em qualquer cantinho em branco que encontrar na apostila. Mas, quando chega o fim de semana, a aula às 7 da manhã no sábado, os pais que não compreendem o meu cansaço, os almoços em que eles insistem em comer em churrascarias (mesmo já estando muito cientes de que não vou mudar de ideia sobre meu vegetarianismo); me sinto, sim, injustiçada. E, sim, é ridículo, mas estou só sendo plenamente honesta aqui. Só.
Ontem, diante daquele motorista irritadinho, além de pensar no quanto eu estaria felicíssima se tivesse um carro, lembrei, como já disse, do dia anterior.
Sexta, fim da primeira semana de aulas, e, à tarde, na sala de estudos da escola, estava totalmente mergulhada na matemática C. Terminei mais uma página de exercícios, e, ao ver que tinha acertado todos, fiz uma discreta comemoração e resolvi levantar um pouquinhos os olhos, alongar o pescoço, beber uma aguinha, coisa e tal.
E foi então que vi: estava rodeada de gente. De muita gente.
Todo mundo ali, cada um mergulhado na própria apostila, nos próprios pensamentos e raciocínios, nos próprios sonhos que querem realizar. Minha amiga estava do meu lado, e fez uma careta tão ridícula que tive que rir. E tinha tanta gente rindo ali, discretamente, para não atrapalhar os outros, mas rindo. Às 17h30 de uma tarde de estudos praticamente sem pausa, enquanto lá fora o Sol estava de rachar.
E a gente ali. E a gente rindo. E a gente feliz. Cansado pra caramba, , mas feliz.
Tão diferente daquele motoristinha estressado do shopping.
Tão diferente.
A gente sabe o que quer. A gente está ali não só porque pode, como se permite lutar pelo que quer. Apesar dos momentos de fraqueza e autopiedade, temos todos consciência de que a escolha foi nossa. Nós queremos algo não tão fácil. Queremos enfrentar uma tortura decorebística.
E estamos ali, dia após dia, um do lado do outro, mergulhando cada um na sua apostila, mas mergulhando juntos.
E felizes.

Enquanto aquele motoristinha, aquele pentelho, é um perdido. Indo fazer compras no shopping e berrando com os outros. Ui.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

(Pelo menos um) Momento de sobriedade carnavalesca

Minha cerveja já está quente, não sei se pelo calor absurdo que gruda meu cabelo despenteado à minha nuca ou pela minha lerdeza na hora de beber. Dirijo-me a um canto e deixo a latinha ali.
A fila para fazer xixi está gigante e o chão do banheiro está imundo. Tem mulheres arrumando o cabelo enquanto outras admiram suas próprias bundas na frente do espelho. Por um momento, eu as odeio. Para quê todo esse apelo sexual? Você acha mesmo que essa bunda pulando para fora do vestido é o melhor que você tem a oferecer?
Mas então desencano. É carnaval e estou prestes a esvaziar minha bexiga em um banheiro até-que-limpo: a vida não é tão ruim assim.
Depois do devido esvaziamento bexigal, chega minha vez de me olhar no espelho, e a tristeza: meu apelo sexual é igual a zero e o ar praiano fez de minha franja um belo par de chifres apontando para os lados. Ponho meu cabelo em um coque alto, diminuindo meu apelo sexual para aproximadamente menos cinquenta e dois, e saio à procura do meu irmão. Não estou de salto, então quanto o encontro pulando, fico feliz em poder acompanhá-lo. Steve Angello é o DJ da noite, e, além de ter cabelo comprido e poder fazer um rabinho charmoso, ele está tocando um set da Swedish House Mafia que não deixa nem as mulheres de salto alto paradas.
Ao meu redor, todos estão drogados e bêbados, mas eu, que não bebi nem uma latinha inteira de cerveja, sóbria a ponto de resolver uma equação matemática (só não muito difícil - estou de férias a quase quatro meses), observo ao meu redor com um interesse especial, vindo não sei bem de onde.
Percebo como esse lugar é bonito, e como devem ter pago uma fortuna para construí-lo. Para entrar aqui, aliás, cada um dos presentes também pagou uma pequena fortuna, e o nosso banheiro podia então estar limpo, e não até-que-limpo. Mas muita gente vai acabar a noite com a cabeça no vaso, que já estará sujo de xixi. Não é como se a galera dançando de óculos de sol em plenas 4h30 da manhã fosse se importar com isso.
A música está boa. Sinto a batida, e meu corpo acompanha. Sinto o calor, sinto o suor em minhas coxas quando elas se tocam. Sinto vergonha pelas mulheres com a bunda quase aparecendo, cujas coxas, aparentes e celulitosas, não chegam nem perto de se tocar enquanto elas dançam. Sinto a água gelada entrando no meu corpo. Sinto prazer em estar ali aproveitando as minhas férias, que - é aí que paro de pular - ai meu deus, já estão acabando.
Por um momento, não consigo raciocinar. O que existe na vida além de férias? Há muito tempo esqueci que existem reclamações diferentes de "não tenho nada para fazer".
É, Steve Angello, acabou. Daqui uma semana só, já acabou tudo. E começa então aquela jornada que concordei em participar. Será que, aqui nesse mar de homens com correntinhas prateadas e cabelos imensos com escova progressiva, alguém estuda na USP? Queria sentar e conversar. Estou ansiosa demais pelo futuro para reparar se tem algum gatinho me olhando - até porque já constatei faz tempo que não tem nenhum gatinho aqui. Meu futuro me aguarda. Não sei o que vai acontecer, mas sei que este é o fim do que sinto ser um limbo entre o nada e o tudo.
"Como é bom estar assim, no começo da vida", disse esses dias meu vô, olhando para mim com um sorriso bobo entre suas bochechinhas rosadas.
Como é bom! Eu quero estudar! Quero passar o ano me matando por algo que pode ser maravilhoso, por uma coisa pela qual escolhi lutar.
A batida da música é de repente acompanhada por uma chuva de papel picado, e volto minha atenção ao momento. À minha volta parece só existirem casais se amando (meu irmão e sua namorada sendo um deles), e eu estou é amando minha vida e todas as possibilidades que vejo em minha frente.
Sendo a possibilidade que escolho para mim agora aproveitar pra caramba esses últimos dias de limbo.
Feliz carnaval. Mas, principalmente, feliz ano que agora vai realmente começar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre meu guarda-chuva e um milhão de teorias furadas

Naqueles dias de verão em que o calor é grudento e a sensação de daqui-a-pouco-vai-cair-um-toró é constante, costumo andar por aí com um guarda-chuva gigante, daqueles com um cabinho pontiagudo em cima, na mão. Assim me sinto invencível: além de eu não me molhar, ninguém vai querer me assaltar / estuprar / sequestrar / perseguir / fazer mal enquanto estiver com aquela quase que arma na mão.  Com ele me sinto tão segura que, em um desses dias de verão, cheguei a fazer a burrada de atravessar a rua sem antes olhar para os lados. Felizmente, porém, nada aconteceu.
Foi nesse mesmo dia - em que, aliás, nem choveu - que me deparei com um carinha adorável andando de bicicleta no centro da cidade. Trocamos olhares por uns segundos, o que foi um daqueles momentos gostosinhos da vida, e depois seguimos nossos caminhos, o que foi normal. Eu estava indo até a banca à procura da revista Piauí de fevereiro, e o destino dele era provavelmente para o mesmo lado que o meu, porque a gente acabou se cruzando - e se olhando - de novo. Foi quando entrei na banca que percebi não só que nunca mais o veria, mas principalmente o quanto é fácil se apaixonar por uma coisa que tem poucas chances de dar certo - principalmente quando a coisa que tem poucas chances de dar certo é assim tão adorável.

Por que será?
Isso me faz lembrar do hábito bem comum - principalmente entre nós, mulheres - de querer quem não nos quer.
Por um lado, quem sabe seja simplesmente a vida conspirando contra nós. Vivo vendo meus ônibus passeando por aí, mas, quando estou no ponto, aguardando um deles, o tempo de espera já chegou a mais de 50 minutos. Além de uma gigantesca falha no sistema de transporte desse país, isso fala sobre o quanto as coisas são naturalmente mais complicadas quando as queremos. Porque, assim como quando estou caminhando por aí e encontro o Interbairros sem querer; quando, amorosamente falando, já estamos com alguém, chove coisas com muita chance de dar certo em cima de nós. Já quando estamos sozinhas...
Será que Freud explica? Porque, mesmo a vida e sua conspiração contra nós tendo sua parcela de culpa, nós temos uma maior ainda: quando é que a gente (lê-se: eu) (e essa história já não tem mais tanto a ver com o ciclistinha-adorável) vai parar de querer desafios amorosos? Será que nunca? Será que sem desafio não tem graça? No pain no gain?

Já dei muitas chances, se não para o amor, para aqueles caras (em grande maioria bizarros) que insistem em ligar e querer me ver.

Mas, no final das contas, para quê dar uma chance para toda essa falta de desafio, se eu já me sinto tão segura e protegida por aí em companhia do meu guarda-chuva?